Enxame Na Escuridão – O Ataque Das Abelhas
Poço de Gavilán, Mexico
6 de Julho 2002
O sol de sábado castigava a pele de Helios Medina e seus nove companheiros enquanto se aproximavam da entrada do Poço de Gavilán. A caverna, um buraco de 91 metros de profundidade e 61 metros de diâmetro, escondia bem lá no fundo uma piscina profunda e um labirinto de cavernas submersas. Para cinco deles, incluindo Medina, a promessa de desbravar as profundezas aquáticas era irresistível. Os demais, meros aprendizes na arte da espeleologia vertical, buscavam aprimorar suas habilidades para futuras expedições.

O domingo amanheceu com a mesma intensidade solar, e o grupo se pôs a preparar a descida. A ausência de árvores ou rochas próximas os obrigou a usar um de seus veículos como ponto de ancoragem. Duas cordas foram lançadas na escuridão do poço, e Medina, com o equipamento de mergulho preso ao corpo, iniciou sua descida de 87 metros.

Aproximadamente 30 metros abaixo, a corda começou a correr mais rápido do que o esperado, se continuasse assim, seu único freio seria o chão rochoso. A cada metro que passava, mais difícil se tornava controlar a velocidade. Num momento de desespero, Medina instintivamente enrolou a corda em volta da perna, numa tentativa de criar atrito e frear a queda. A manobra funcionou, mas queimou sua pele.
Um a um, seus companheiros o seguiram, e juntos exploraram as profundezas da piscina, aventurando-se até 36 metros de profundidade. Ali, encontraram a entrada de uma nova passagem, que decidiram deixar para uma próxima oportunidade.

A aventura aquática havia terminado, e agora era hora de retornar à superfície. Todos saíram da água, começaram a organizar seus equipamentos de mergulho e começaram a escalar para fora da caverna.
Medina, com sua experiência, assumiu a responsabilidade de ser o último para ter um espeleólogo experiente no fundo para verificar os sistemas de escaladas e auxiliar os menos experientes a sair e o outro mais experiente subiu primeiro, garantindo a segurança dos demais caso tenham alguma dificuldade no topo.
Por volta das 15h, quando dois espeleólogos já estavam na superfície e quatro outros escalavam as cordas, um grito agudo cortou o ar. Um dos escaladores havia, sem querer, perturbado um ninho de abelhas africanizadas, que, furiosas, atacaram o grupo com ferocidade.
O caos se instalou. Abelhas por todos os lados, picando impiedosamente os espeleólogos, que se debatiam em busca de escapar do ataque. Os dois que já estavam na superfície correram para ver o que estava acontecendo, mas também foram atacados.

Um dos espeleólogos que já estava no top, num ato de bravura, conseguiu montar uma terceira corda e desceu para resgatar os companheiros em apuros. Um a um, ele retirou 2 colegas da corda, cortando seus equipamentos e amarrando no dele, arrastando-os para a superfície.
Exausto e vomitando como resultado de seu esforço e das picadas de abelha que havia sofrido durante suas decidas, o espeleólogo ligou para emergência.

Lá em baixo Medina, vestiu sua roupa de mergulho para se proteger e pediu para os espeleólogos mudarem para o rapel e voltar para baixo. Um estava a 24m e o outro a 37m acima do fundo do poço, mas sempre que eles tentavam se mexer, as abelhas atacavam novamente.
A situação era desesperadora. Medina, então, decidiu escalar até os companheiros em perigo, numa tentativa de resgatá-los, ele subiu até o mais baixo dos escaladores encalhados, enquanto outro espeleólogo subiu a segunda corda para ajudar. Medina mudou para o rapel prendeu uma corda ao arnês do espeleólogo encalhado e desceu com ele pendurado.
Enquanto Medina se preparava para voltar e resgatar o alpinista encalhado que restou, as cordas começaram a sacudir e subir pelo poço.
Lá em cima, um dos espeleólogos decidiu ligar o SUV que os espeleólogos usaram como âncora para puxar os espeleólogos para fora do poço, sem se dar conta do perigo que isso representava para a segurança de todos.
Corda, agora sob tensão, ameaçava se romper. O último espeleólogo, a 37 metros do chão, soluçando e implorando por ajuda, enquanto o tempo se esvaia.
No fundo do poço, a atenção se voltou para o primeiro resgatado, que apresentava sinais de choque, ele ficou sem resposta, começou a tremer, perdeu o controle do esfíncter e estava
respirando irregularmente.
O estudante de medicina entre eles iniciou os primeiros socorros, enquanto as sirenes dos veículos de resgate ecoavam na superfície. Por volta das 16h15, cerca de 50 socorristas já estavam no local. A luta contra as abelhas era árdua, e cada movimento era arriscado. A espeleóloga que ainda estava presa na corda não se movia mais.
Os socorristas içaram as cordas, trazendo-a para a superfície, e a levaram para uma ambulância que os aguardava.
Quando a escuridão caiu, o espeleólogo ferido no fundo também foi retirado e levado para o hospital. Os espeleólogos restantes escalaram para fora, com Medina sendo o último a chegar à superfície por volta de 1:00 da manhã.
Como ficaram os espeleólogos após esse incidente?
- O espeleólogo que trabalhou no topo do poço para resgatar dois dos escaladores passou aquela noite e o dia seguinte no hospital. Uma das mulheres que ele resgatou recebeu mais de 600 picadas de abelha e ficou hospitalizada por três dias.
- A outra mulher, que acidentalmente precipitou o ataque e era a mais próxima do ninho, recebeu mais de 900 picadas e ficou hospitalizada por duas semanas.
- O homem resgatado por Medina recebeu cerca de 400 picadas e ficou hospitalizado por três dias.
- A espeleóloga puxada para fora com uma corda recebeu mais de 1.200 picadas. Ela passou uma semana em tratamento intensivo, depois mais duas semanas no hospital, foi devolvida à unidade de tratamento intensivo por dois dias devido a um coágulo sanguíneo e finalmente foi liberada após várias semanas.
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